quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Casa abandonada...

Sempre tive uma paixão por casas abandonadas que nunca consegui explicar. Casas que outrora foram habitadas por familias mais ou menos felizes, recheadas de sorrisos, recordações, cores, cheiros e tradições.

Quando vejo um vidro quebrado, um silvado selvagem, tinta caída e sinais de ruína perco controlo de meus passos. Sim , quero entrar mas receio. Seria uma invasão, seria perigoso, seria apropriar-me de memórias que não partilhei.

Tem graça. Ainda recordo cheiro da casa de meus avós mas não guardei nenhum objecto, nem uma imagem visual nitida das parades, agora demolidas, que albergaram as memórias da minha família. Sinto o cheiro a madeira, misturado com aquele cheiro da lareira que continuamente ardia. Sinto o cheiro dos risos dos meus primos, da cevada feita ao lume, das histórias contadas entre sandes de marmelada. Quase ouço o ranger dos tacos, os dedos de meu avó a entrelaçar o vime,as melodias da concertina e os tachos a ferver na lareira.



Mas já não alcanço visualmente as memórias de infância.



Alguém me explica esta vontade de entrar em casas abandonadas, a sede de tocar e cheirar os segredos escondidos em baús alheios. Não consigo explicar mas sei que um dia vou entrar nessas quatro paredes desconhecidas e inabitadas.

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